Apresentação

Este blog é um espaço que visa discutir o trabalho de revisão de textos e trocar experiências entre os profissionais que lidam com a arte da escrita ou com aqueles que se interessam pelo assunto.

Poste, aqui, sua ideia, seu conhecimento, suas críticas, seus textos, suas dúvidas para enriquecer o processo de discussão.

domingo, 12 de julho de 2009

A palavra em foco
As palavras não são indiferentes: umas fazem-nos mal, irritam-nos, criam distância; outras, pelo contrário, vêm ao nosso encontro e adoçam-nos a alma. Quem as domina e as sabe utilizar é afortunado porque adiantou muito na vida e evitará grandes desgostos. E, mais importante ainda, será semeador de paz e de alegria. (Miguel-Angel Martí García)

Fonte:
http://pensamentos.aaldeia.net/palavra.htm

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A importância do revisor de texto é indescritível, ontem, hoje e sempre
Vanise Macedo (*)

“Navegar é preciso; viver não é preciso.” Revisar pode ser ou não preciso... - Revisar um texto não é apenas corrigi-lo. Se fosse apenas isso, qualquer um poderia fazê-lo, munido de um dicionário e de uma gramática. O trabalho do revisor vai além de consertar aspectos gramaticais que estejam alheios à Norma Culta da Língua Portuguesa. É claro que, ao revisar, o profissional também deve estar atento a outros aspectos textuais, como à obediência à estrutura frasal ou a repetições desnecessárias de palavras. Como se não bastasse, deve ser analisada a linguagem, percebendo-se se ela está adequada ao objetivo e à mensagem do autor. Por isso, uma revisão é sempre gramatical e estilística.

Notamos, assim, que há, nesse trabalho, uma precisão devido a regras e ao que se espera encontrar em um bom texto. Entretanto, as pessoas, em geral, temem os revisores. Consideram-nos “caçadores de erros”; profissionais que conhecem todos os dicionários e compêndios gramaticais na íntegra e que, por isso, destroem seus textos originais, alterando qualquer frase ou estrutura com a qual não concordam. Visão errônea... Quiçá já se depararam com um mau revisor... E, nesse ponto, entra o lado não preciso da revisão. Cabe ao revisor propor mudanças que não violentem o texto, tampouco seu autor.

É um trabalho de respeito às idiossincrasias de seus clientes, reconhecendo a relevância de cada produto para seu autor. A importância do revisor e sua função são indescritíveis. Navegando pela Internet, por exemplo, assistimos a uma ebulição de textos mal-escritos, a saber, com mensagens truncadas; palavras grafadas erroneamente; frases sem coerência; trechos mal pontuados etc.

A pressa em escrever ou a necessidade de agilizar a transmissão das informações levam, possivelmente, a esse caos lingüístico. Uma vírgula deslocada gera ambigüidade ou altera um significado: “Se o homem soubesse o valor que tem, a mulher andaria de lanterna à sua procura.” / “Se o homem soubesse o valor que tem a mulher, andaria de lanterna à sua procura.O revisor - profissional graduado em Letras ou em Jornalismo -, muitas vezes, tem de fazer mais do que retificar palavras; ele embeleza o texto ou é capaz de ressuscitá-lo! Algumas pessoas são capazes de ter uma boa idéia; no entanto, não possuem facilidade de transpô-la num papel; erram na acentuação, não conseguem pontuar... Outras escrevem bem, porém suas idéias não são claras ou coesas.

O revisor burila as construções textuais, dá destaque às palavras, reforça uma mensagem, traz clareza, torna coeso... O revisor é, antes de tudo, um amante da linguagem, do Português e amigo do autor do texto que ele revisa.

(*) Vanise Macedo é Professora de Português, pedagoga e revisora
Contato: revisandotexto@terra.com.br
(Fonte: Saúde & Lazer - jan/2008)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Revisor: bandido, polícia ou mocinho?

Eis alguns textos com interpretações diferentes sobre a revisão de textos. Esperamos que você aproveite a leitura e dê sua opinião sobre essa questão...


Sobre gramáticos e revisores

Rubem Alves

Os gramáticos são entidades dotadas de um grande poder.Eles têm o poder para baixar leis sobre como as palavras devem ser escritas e sobre como elas devem ser ajuntadas. Seu poder vai ao ponto de poderem estabelecer que uma certa palavra existe ou que tal palavra não existe. Quando a dita palavra aparece num texto, eles a desrealizam por meio de uma palavra latina, "deleatur", afirmando que se trata de um simples fantasma.Foi o que aconteceu com a palavra "estória". Atreva-se a escrevê-la! Os "revisores", policiais da língua que cumprem as ordens dos gramáticos, logo a transformam em "história", assumindo que o escritor a escreveu por ignorar que ela foi a óbito.

Os revisores são seres obedientes: cumprem e fazem cumprir as leis ditadas pelos gramáticos. Saramago descreve a sua condição como seres "atados de pés e mãos por um conjunto de proibições mais severas que um código penal". Olhos de falcão, têm de estar atentos aos mínimos detalhes. Sua concentração nos detalhes é de tal ordem que, por vezes, o sentido do texto, aquilo que o escritor está dizendo, lhes escapa.

Aconteceu comigo. Escrevi um livro -"O poeta, o Guerreiro, o Profeta". O argumento se construía precisamente sobre a diferença entre "estória" e "história". Num capítulo era "estória". No outro, era "história". Se ele, o revisor, tivesse prestado atenção naquilo que eu estava dizendo, ele teria notado que o aparecimento alternativo de "estória" e "história" não podia ser acidental. Mas ele, obediente às leis dos gramáticos, transformou todos os "estórias" em "história", tornando o meu livro gramaticalmente correto e literariamente "nonsense".

Noutra ocasião, o revisor enquadrou na reforma ortográfica uma fala do Riobaldo, que eu citava. Ficou divertido ler Riobaldo, jagunço de muitas mortes, contando seus casos com fala de professora primária.

Saramago tem medo dos revisores. Não permite que eles metam o bedelho nos seus livros para enquadrá-los às regras da gramática. Desprezando vírgulas e pontos ele vai em frente consciente de que seus leitores são suficientemente inteligentes para colocar as virgulas e os pontos nos lugares que sua respiração e o sentido determinarem.

Mas o escritor português sabe que os revisores são pessoas que sofrem. Deve ser terrível viver o tempo todo sob a tirania das leis dos gramáticos e sob a tirania do texto do autor a que eles têm de se submeter, sem dar sua contribuição pessoal. Afinal de contas o revisor não gosta de ser revisor. Ele queria mesmo era ser escritor.

Compadecido do sofrimento dos revisores, Saramago escreveu o livro "História do Cerco de Lisboa". Pois nesse caso o revisor do dito livro que, se não me engano, se chamava Raimundo Silva, se rebelou contra o seu destino e resolveu fazer história. No lugar onde o autor escrevera que os portugueses foram ajudados pelos cruzados, Raimundo Silva inseriu um "não" entre os "portugueses" e o "foram" -o texto ficou "e os portugueses não foram ajudados pelos cruzados...".

Assim, contrariamente ao que já disse, fico a pensar que talvez o poder dos revisores seja maior que o poder dos uma única palavra, eles podem mudar o mundo ou arruinar um livro...




LIMPAR AS PALAVRAS

Affonso Romano de Sant'Anna

Uma vez ouvi na televisão um político americano dizer: "É preciso limpar as palavras." Se bem me lembro, ele falava a respeito de um escândalo que havia ferido injustamente a reputação de alguém. Era como se assinalasse que tínhamos que ter mais cuidado na escolha dos termos que utilizamos. Mas chamou-me a atenção que ele se referisse às palavras como objetos que podem estar mais ou menos limpos.

Tal afirmativa na boca de um escritor seria natural. Mas dita por um político soou como algo raro. Claro que, sendo ele um político americano, há uma explicação para isto. A cultura daquele país tem um substrato calvinista, e um dos itens da ética protestante é o confronto entre o limpo e o sujo, o puro e o impuro.

Anotei a expressão "limpar as palavras". Gostei da frase e da intenção. Imediatamente pensei: assim como aqui e ali a gente encontra escrito " Consertam-se geladeiras", pensei numa oficina que teria escrito na entrada "Limpam-se palavras".

Assim como a gente manda uma roupa para tinturaria, é preciso mandar limpar as palavras. Como se faz uma faxina na casa, pode-se faxinar o texto. Há até especialistas nisto: o revisor, o copidesque, o redator. Eles pegam o texto alheio e começam a cortar aqui e ali as gorduras, os excessos, as impurezas gramaticais. Também os professores, os linguistas, os filólogos podem entrar nessa categoria, a exemplo dos dicionaristas.

Então, um garoto pergunta ao outro: " Meu pai é médico, e o seu? O outro pode dizer: " Meu pai limpa palavras. É uma gari de frases".

Mas como se limpa a palavra? Com vassoura, creolina, Ajax, Omo?

Só uma palavra pode limpar outra, como só uma palavra pode sujar outra palavra ou uma vida inteira.

Cada um tem lá sua técnica para limpar as palavras. Lembro uma conhecida que sugeria que para botar um jeans bem limpo na máquina de lavar roupas era necessário jogar lá dentro também um par de tênis. A máquina começava a girar-girar e o tênis batendo-batendo na roupa, e ela saía limpa e macia. No fundo, era um pouco a imitação tecnológica do que as lavadeiras sempre fizeram na beira dos rios, batendo as roupas na pedra. Cada escritor coloca dentro de sua máquina de escrever um tênis diferente para clarear a escrita. São matreirices, espertezas como as da cozinheira que sabe como dar este ou aquele sabor à comida.

Poderia um escritor dizer para o outro: "Por que a sua palavra é mais limpa que a minha?" Por que em Machado de Assis e Euclides da Cunha, Guimarães Rosa e Clarice Lispector as palavras são mais rutilantes que nos demais?

O bate-enxuga das palavras. O publicitário também sabe o que é isso, o que é sacar a frase de efeito, revirar o texto para que ele tenha a força do slogan, do provérbio, do axioma. Os homens que tratam das leis também pensam nisso. Ficam ali burilando os termos pra evitar ambiguidades e subterfúgios. Às vezes conseguem, às vezes não. A lei deveria ser limpa, transparente. Às vezes é, às vezes, não.

Lembro o deslumbramento com que, aí pelos 15 anos, li um livro de Antônio Albalat - A arte de escrever. Foi uma revelação saber que alguém podia pegar um texto e reduzi-lo à metade, melhorando a informação. Tomava ele um texto e exibia como ali havia excesso de adjetivos ou do pronome "que", e, no final, convencia de que a economia verbal era o menor caminho entre o autor e o leitor.

Nessa questão de limpeza textual há sempre uma vítima: o adjetivo. Devo admitir que, embora o adjetivo seja em geral um problema, há muita injustiça a seu respeito. Os radicais querem expulsá-lo das frases, como se fosse uma praga. Até Machado de Assis, incorreu neste exagero. Um dia até farei uma crônica sobre isto para mostrar como Machado, que condenou o adjetivo aqui e ali, o usou abundante e adjetivamente.

Nestes dias os jornais estão trazendo para o Brasil uma questão que surgiu nos Estados Unidos: o que é "politicamente correto" e o que é "politicamente incorreto". A questão, além de política e ideológica, é essencialmente semântica. Ou seja, as pessoas estão tomando mais cuidado não só com a comida que consomem, mas também com as palavras que usam, a tal ponto que está havendo até um policiamento da linguagem.

Limpar as palavras. Mas há palavra pura? Há algum tempo houve um movimento chamado "poesia pura", "arte pura". Existe alguma coisa pura? Há dúvidas. Alguns teólogos medievais sustentavam que, já que Deus era tudo, o próprio diabo fazia parte de Deus.

Mas quem limpa as palavras se parece com o diamantário. Ou, então, com o enólogo, que experimenta o vinho fazendo-o circular pela boca, sob e sobre a língua, degustando-o. É o caso do orador, que é um escritor oral. Nele a palavra é a voz enamorada de si mesma. Ele não fala com o público, fala com as palavras, para as palavras.

Antigamente costumava-se dizer que certas expressões eram sujas, certas expressões, imundas. Dizia-se: " Esse menino tem a boca suja". E havia quem passasse pimenta e sal na boca do filho que falasse nomes feios. Mas tudo isso pulou para a literatura, para a conversa de salão, para a televisão.

Hoje, que a ecologia está na moda, condena-se a poluição.

A despoluição na verdade começas pela despoluição no discurso.

In: AFFONSO Romano de Sant'Anna. Seleção e prefácio de Letícia Malard. São Paulo: Global, 2003. P. 211-214. (Coleçao melhores crônicas);

sábado, 4 de julho de 2009

Ana Márcia*, o que as novas tecnologias e as novas mídias trazem de mudanças para o trabalho do revisor?

* Professora da Oficina VI: Ambientes Digitais, do curso de Revisão de Textos do IEC, PUC-MG.